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29.11.06

O reino do padre

A religiosidade é comum a todo ser humano, mas não a religião. Todo homem possui a faculdade da fé, todos acreditamos de coração em alguma ou em muitas coisas… Uns tem fé na ciência, outros na natureza, alguns na loucura, e muitos tem fé em algum deus. Mas quão poucos tem fé no Deus.

Ao longo da história a humanidade cultivou e destruiu inúmeras e variadas religiões… Mal sabia a humanidade que só existe uma única religião. E essa possui poucos membros, mas é a única apta a receber verdadeiramente qualquer homem, sem restrições de nacionalidade, classe, cor, sexo, etc…

Os caminhos que levam a Deus são muitos. Não importa o caminho que escolhemos, e sim de que maneira o seguimos: O meio mais rápido é pelo amor ao tudo; O outro é lento porque se prende ao ego e as restrições do preconceito.

Toda e qualquer religião, a exceção da verdadeira, parte de um pressuposto comum e ilusório: “Nós veneramos e glorificamos ao único e verdadeiro Deus. Apenas nós vemos ao criador. Qualquer um que siga outro caminho estará perdendo o seu tempo, e porisso todos devem ser convertidos a nossa religião, ao nosso Deus.” “Nosso Deus”? Deus não pertence a ninguém, não está contido em nada, pois é ele o único que contêm a tudo. Deus não é exclusividade de nenhuma religião. E tão pouco qualquer religião foi capaz de ver a Deus em toda sua magnitude… [1]

Umas chegaram mais perto, muitas possuem grandes méritos de amor, caridade e educação moral. Mas enquanto as religiões se aterem a divisão, enquanto se preocuparem em converter fiéis ao invés de esperar que os homens por si só se lhe tornem fiéis, nunca chegarão a verdadeira religião.

Como pôde observar o filósofo alemão Immanuel Kant em sua crítica a grande igreja da época: “Os homens não souberam entender a mensagem de Jesus. E ao invés de ser instalado na Terra o reino de Deus, foi instalado o reino do padre.” Claro: Jesus dizia para nós amarmos a Deus acima de tudo, e o próximo como a nós mesmos… E todos os seres são nossos próximos... Todos, sejam os que vieram antes de nós, sejam os que convivem conosco agora, sejam os próximos seres a povoar a Terra… Todos!

O quão duro é para a humanidade entender que a felicidade, a simplicidade e a facilidade estão exatamente em amar a todos sem restrições, sem complicações. Não importa o caminho escolhido, e sim a maneira de caminhar. Não importa nossa falta de visão, porque temos ainda uma eternidade para lapidar nossa alma.

A verdadeira religião é aquela que não divide, une. Não dita o caminho, pois é o único caminho a ser seguido. Não pune, consola. Não julga, mas é eternamente julgada. Não se vangloria, porque sabe que um dia todos estarão com ela.

E quão felizes são os seguidores de tal religião… Esses não precisam nem orar e nem pedir benção, pois sabem que Deus os abençoa eternamente, e fazem de sua vida uma oração sem fim. Uma oração de agradecimento pelo milagre da vida.

Minha religião é meu pensamento.
Minha igreja é meu coração.
Minha vida é minha bíblia.
Deus é nosso amor.

***

Esse texto é um dos capítulos do meu livro "Do Universo ao Universal" (1998), devidamente editado para refletir o meu pensamento atual. Basicamente, diminuí o nível de dramaticidade retirando algumas exclamações, afora deletar alguma baboseira pretensiosa. As quatro últimas linhas ainda refletem meu ideal de vida, no entanto, e no geral ainda acho uma mensagem bastante atual, com o devido perdão a igreja de cada um...

[1] Importante lembrar que nesse parágrafo o termo "religião" é usado no contexto de "igreja", representando as grandes igrejas monoteistas (Cristianismo, Islamismo, Judaismo). Religião no entanto significa "religação a Deus ou ao Cosmos", já igreja significa "comunidade dos escolhidos por Deus" - Nesse sentido podemos dizer que nem toda religião é uma igreja, embora toda igreja seja uma religião.

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