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22.2.08

Homenagem aos Instrutores Desconhecidos

O que eles incumbiram-se de fazer
Eles trouxeram para ensinar;
Todas as coisas sustentam-se como uma gota de orvalho
Sobre uma folha de grama no ar.

William Butler Yeats (tradução de Rafael Arrais)

*

Gratitude To The Unknown Instructors

What they undertook to do
They brought to pass;
All things hang like a drop of dew
Upon a blade of grass.

William Butler Yeats from The Winding Stair (1933)

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19.2.08

A mesa no céu

Dizem que no fim dos tempos
O tabernáculo de Deus estará com os homens
E Ele enxugará toda lágrima,
E não haverá mais morte,
E não haverá mais pranto nem dor,
Pois todas as coisas terão passado...

Dizem que os bons estarão ao seu lado
No bendito céu que é eterno.
Mas, o que dizer dos outros?
Os covardes, os incrédulos, os assassinos,
Os impuros, os feiticeiros e mentirosos...
Estarão condenados ao lago que arde
Com fogo e enxofre
E que também é eterno!

Ora, quem quer que tenha dito isso
Contou uma história muito mal contada,
Muito diferente da história
Que um anjo me contou:

- Ao chegarmos no céu, percebemos que havia uma mesa,
E que ela tinha um número imenso de cadeiras,
Uma cadeira para cada homem e mulher,
E comida e bebida farta, que não findaria nunca...

- No entanto, quando iríamos começar o jantar
Para celebrar nossa chegada aos céus (depois de tanto tempo),
Nosso líder que era Jesus nos disse
Que era cedo para começar o jantar,
Pois que a mesa não estava posta para todos os seus convidados.

- Desde esse dia, saímos do céu
E retornamos a terra
Para distribuir os convites de Deus
Para todos aqueles que ainda faltaram à mesa.

raph'08

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7.2.08

Desvios na estrada

Há quem diga que toda nossa história, todo o passado e futuro por vir no espaço-tempo, está já determinado. Como uma estrada a qual todos os obstáculos já foram postos, aquele que conhecesse a posição de todas as partículas do Universo em um determinado momento (como o fez o Demônio de Laplace), poderia prever com exatidão o desenrolar delas, e consequentemente, o futuro exato de todas as coisas.

Ora, e o que seria isso senão a onisciência divina? A grande totalidade dos que acreditam em Deus aceitam de bom grado que ele é onisciente, e que nada, sequer um fio de cabelo nosso que cai, está livre de seu conhecimento. Quanto menos a nossa própria consciência está livre do olhar de Deus... Portanto, como algumas teorias físicas sugerem (para saber mais consultar o livro "O Tecido do Cosmo", de Brian Greene), o espaço-tempo poderia sim estar todo definido, tanto em espaço como em tempo, e todo o desenrolar do tempo, que não necessariamente passa, mas que percebemos como algo que vai do passado para o futuro, estaria definido como um filme.

Nesse filme, seríamos nós apenas atores "coadjuvantes", seguindo um roteiro divino ao qual não temos a possibilidade de alterar nem uma vírgula sequer? Será que cada decisão que tomamos e tomaremos em nossas vidas foi na verdade determinada por um "Mestre do Bonecos" universal... Enfim, seríamos apenas "fantoches" nas mãos desse Senhor?

Ora, nessa história eu acredito que teríamos algumas "opções", como ocorre nos livros-jogo ou Role Playing Games (jogos de interpretação), em que o leitor escolhe o caminho à seguir na história lida, ou os personagens da peça teatral escolhem por si próprios como lidar com os desafios do roteiro... Afinal, isso em nada implicaria a anulação do conceito de onisciência divina.

Deus a tudo pode ver e sabe de nossos anseios e escolhas antes mesmos de serem tomados, porém, onde pressupõe-se que ele interfere nessas decisões?

Foi criado um mundo, um espaço-tempo, um Universo, acima de tudo inteligente, ordenado e, ainda que ainda não consigamos ver totalmente, perfeito. Um sistema perfeito não precisa de remendos, de intervenções divinas para qualquer tipo de "reparo no script ou roteiro". A criação não é uma série televisiva que depende de audiência, e que pode ser alterada a bel-prazer por roteiristas esquizofrênicos para que possa dar um "pico" no próximo feriado... Deus não interfere, mas da eternidade, de onde está e onde não há nem tempo, nem espaço, nem espaço-tempo, ele se "movimenta" e emana-se a si mesmo para todo o cosmos. Em cada partícula do Universo há a impressão digital de Deus, e se pelo lado material elas podem ter um destino pré-determinado, no lado espiritual essa partículas estão antes a serviço do lapidar das consicências, das almas que evoluem à partir de suas próprias escolhas.

Não que fôssemos inteiramente livres. Nós decidimos sem dúvida, porque temos consciência de fazer tais escolhas, de existir... Mas decidimos à partir do que nos é dado. Temos uma estrada à seguir, e por mais que uns caiam em buracos lamacentos e outros consigam pegar desvios e atalhos, ninguém, absolutamente ninguém, pode sair dessa estrada.

No entanto, muitos sábios do passado dedicaram suas vidas a estudar essa estrada, a conhecer as curvas vindouras e mapear todos os buracos que já abocanharam homens... Estudaram anos à fio e nos passaram senão um mapa, ao menos um guia de como percorrer esse caminho. Seja no Bhagavad Gita, no Livro do Caminho Perfeito, na Bíblia, no Livro dos Espíritos, muitos sábios vieram em nosso auxílio para tornar nossa via até a perfeição mais curta e o menos dolorosa possível.

Uns acatam tais conselhos e procuram conhecer a si mesmos, outros não, e estão ainda sujeitos a tantos percalços e armadilhas dessa estrada, as mesmas que tem afetado milhares de homens em milhares de anos de homens... No entanto, por mais que a estrada possa ser sofrida, ela não nos tira a nossa mais preciosa capacidade, que é ao mesmo tempo nosso maior presente, e nosso maior peso:

A capacidade de escolha.

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