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6.3.09

Reflexões sobre o ceticismo, parte 3

continunando da parte 2...

Energia: é o potencial inato para executar trabalho ou realizar uma ação.

Quando a energia gera a si mesma.

Quando falamos em energia, as pessoas podem ter as mais variadas concepções. Para um físico energia é "a propriedade (um atributo) de um corpo ou partícula. Não existe sentido em dizer que algo é energia pura"; Já para um devoto de Saint Germain, energia também pode ser "espiritual, com as qualidades de misericórdia, perdão, justiça, liberdade e transmutação, e podemos invoca-la em nome de Deus, para que essas qualidades sejam transmitidas momêntaneamente a nós"; Para os que entendem energia como Ki, Chi ou Qui, "ela pode ser associada de um modo bem amplo ao conceito ocidental de energia: diferentes ideogramas com este mesmo som (da pronúncia da palavra 'Ki') representam em chinês a energia dos alimentos, do ar e a energia pré-natal".

O grande problema das definições não-científicas de energia é que elas são, na grande maioria, pouco específicas acerca do que pretendem definir. São muito mais um conceito, uma idéia, do que parte de um sistema lógico de compreensão do mundo físico. Se a energia é entendida como "potencialidade", não faz mesmo sentido falarmos em "energia positiva" ou "energia negativa" - não é a energia que é positiva ou negativa, mas o uso que fazemos dela. Mesmo essa classificação como positivo ou negativo depende de nossos próprios conceitos do que vem a ser "positivo" e do que vem a ser "negativo"... Interessante que existe uma analogia a isso na ciência: quando falamos em pólos magnéticos positivos ou negativos, estamos usando termos definidos pelos cientistas que servem apenas para definir os pólos que se atraem (opostos) ou se repelem (idênticos).

Então, da mesma forma que poderíamos chamar a energia eólica de "positiva", pois pode nos auxiliar a reduzir o aquecimento global (visto que outras formas de energia contribuem muito mais para o aquecimento do globo), se chamarmos o ódio de "energia negativa", estaremos apenas atribuindo um julgamento a um sentimento humano, sentimento este que pode ser "forte", mas que será sempre "negativo", já que tende a prejudicar ou machucar as pessoas (inclusive a própria pessoa que sente ódio).

Tudo isso é muito filosófico, mas passa longe de uma análise mais cética, que pretende definir com mais clareza o que é energia enquanto conceito científico (um atributo das partículas) e o que são a miríade de energias espirituais: sentimentos, entidades, seres imateriais, forças metafísicas? - Por mais que essas definições embrulhem o estômago de alguns céticos, o ceticismo não pretende ignora-las, mas apenas compreender o que realmente modifica a nossa realidade física, e o que não passa de mito ou imaginação.

Da mesma forma, para os espiritualistas, compreender a energia de forma científica me parece um bom caminho para classificar melhor as diversas teorias envolvidas, utilizando do ceticismo como ferramenta para julgar quais merecem maior crédito de estudo, e quais se apresentam absurdas de antemão. Se ouvirmos falar em "seres de energia", precisaremos nos perguntar então "de onde vem sua energia"? Toda teoria que diz que a energia gera a si mesma, que é uma entidade incriada, ou que existe desde o início do Universo, deve ser analisada e reanalisada, pois vai no sentido oposto de muito do que temos observado acerca da Natureza nos últimos séculos...

Não me parece que a consciência, ou alma, ou espírito, seja imaterial. Pelo contrário, diversas teorias espiritualistas modernas, como o espiritismo, ou milenares, como o I Ching, afirmam exatamente que a energia vem das coisas em si, não de fora delas, e que não é a energia que opera a matéria, mas a matéria que irradia energia... Se essa matéria interage com a luz (fótons), se já foi detectada em laboratório, se assemelha-se mais a ondas eletromagnéticas do que a partículas determinadas no espaço, aí sim é uma outra história. Porém, essa "outra história" passa a não soar tão absurda a luz de um ceticismo responsável, por mais que possa soar absurda a um materialista convicto.

Como disse Lavousier, "na Natureza nada se cria e nada se perde, apenas se transforma" - Imaginarmos que "raios de energia espiritual" podem se formar no Universo, apontados para nós, porque "de alguma forma os invocamos por nossa fé em Deus", pode até soar confortador e nos ajudar bastante quando estamos nos sentindo depressivos, porém usarmos desses conceitos metafísicos ao pé da letra para explicar os sistemas naturais ao nosso redor me parece um extremo exagero, no mínimo um atentado ao ceticismo.

Por outro lado, continuarmos estudando a consciência humana e outros fenômenos ainda além das cartilhas científicas, valendo-nos do ceticismo, me parece no mínimo uma promessa de estudo dirigido pela lógica... Até onde a ciência nos explica a Natureza, saudemos a ciência. Nos limites do horizonte onde ela ainda não chega, valemo-nos da lógica, do bom senso, e de um ceticismo como ferramenta de ajuda, e não de cegueira.

***

Crédito da foto: Diiego!

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4 comentários:

Blogger raph disse...

A discussão sobre sentimentos enquanto "energias" no Orkut me trouxe essa reflexão que acho que tem a ver com o tópico:

"Mas para mim o amor é uma potencialidade, não é o oposto do ódio, visto que o ódio é a mesma potencialidade focada em uma outra direção, mas é oposto da indiferença, que estaria mais de acordo com o materialismo, que é quando ignoramos que a potencialidade sequer exista realmente.

(...)

Outra consideração sobre o amor equacionado - seria elaborarmos uma teoria para uma potencialidade que, quanto mais se irradia, mas se tem dentro de si. Este sim seria o motor perpétuo :)"

6/3/09 17:14  
Anonymous Franco-Atirador disse...

Ótima série. Eu sempre achei isso sobre o conceito de energia usado no espiritualismo!

9/9/12 01:57  
Blogger Vinícius Dalí disse...

Pensei algumas coisas ao ler o seu texto. Na verdade, algumas ideias que já possuía vieram à tona.

1- Quanto a "energia":
Essa palavra parece ser usada levianamente no meio espiritualista. Observando médiuns e sensitivos que conheço (e contando com a minha própria sensibilidade), o que chamam de "energia" é capaz de provocar sensações, emoções, e em alguns casos, até visões. Talvez seja mais apropriado chamar esta "substância" de informação, pois é exatamente isso que é transferido: percebe-se o estado emocional e o padrão de pensamentos de alguém, e no caso dos passes (incluindo técnicas similares de imposição de mãos), transfere-se a ideia de "cura", uma sensação que ao ser incubada naquele que recebe este "tratamento" somatize algo compatível.

2- Quanto ao materialismo, e tudo ser matéria:
Numa primeira leitura, o conceito de que tudo é material (incluindo a "alma", sentimentos, ideias), parece ir contra o abstrato e ignorar as experiências místicas de "olhar fora do casulo". Porém, uma segunda interpretação que tive foi a seguinte:

Considerando o mundo "espiritual" como sendo feito de uma espécie de Informação, ele não seria algo "falso" (não sei se me expressei bem), inexistente, por não ser algo concreto, mas sim uma espécie de existência ainda desconhecida. Já que um mundo hipotético feito de informação parece algo insubstancial olhando daqui, mas para algo que seja feito exclusivamente de informação, um mundo feito de informação me parece algo bem concreto e palpável!

Inclusive, esta palavra ("Informação") me parece ser uma certa chave que falta ao nosso entendimento da Natureza. Por quê as coisas são assim? Por quê as leis que regem o Universo, os instintos, o nosso código genético, são da forma que são? Tudo isso me parece ser ordenado por uma espécie de pensamento (informação), para que seja do jeito que é.

Espero não ter falado muita abobrinha, tudo o que eu disse foi meramente baseado nas experiências pessoas que eu tenho e nas minhas divagações.

Abs.

8/3/13 17:46  
Blogger raph disse...

Oi Vinícius,

Ah meu ver, pelo menos, não falou besteira alguma, e inclusive entrou em assuntos bastante profundos.

"Informação" tem duas concepções etimológicas, uma antiga e outra moderna:

- A antiga: "Dar forma a mente".

- A moderna "Evento que afeta um sistema dinâmico".

Ora, segundo a ciência, o universo inteiro é um sistema dinâmico. Na sua essência mais profunda, tudo o que há, incluindo o que chamamos de matéria, é informação.

Já segundo o hermetismo e diversas outras doutrinas espiritualistas, "o Todo é mental". Ou seja: tudo que há é pensamento do Criador, ou o que Benedito Espinosa chamou de Substância.

De tudo isso falo no meu livro, "Ad infinitum". De fato, esses são conceitos chaves do livro.

***

Já sobre o espírito não ser imaterial, é exatamente isto que é dito na resposta a pergunta #82 do Livro dos Espírtos.

O espírito, sendo "alguma coisa", não pode ser "nada". Seria portanto incorpóreo, mas não imaterial. Formado por uma substância que foi chamada de "quintessenciada", o que hoje poderia ser análogo a Matéria Escura, tão "etérea" que nem sequer interage com a luz.

Quero lembrar que segundo a ciência dita oficial, detectamos apenas cerca de 4% de toda a matéria cósmica - sendo TODO o resto Matéria Escura e Energia Escura.

Isto que estou falando se enquadra no dualismo de propriedade, que reconhece que há apenas uma única substância, mas que ele tem propriedades materiais e mentais (ou espirituais). Que de outra forma seria impossível sequer começar a tentar resolver o chamado "problema difícil de consciência".

Bem, acho que já trouxe coisas demais para você pesquisar no Google.

Até mais e obrigado pelo excelente comentário :)

Abs
raph

10/3/13 20:01  

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