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25.6.11

Fotografando auras

Conto pessoal, da série “Festa estranha”, com depoimentos de Rafael Arrais acerca de suas experiências espiritualistas. Baseado (ou não) em fatos reais. Os nomes usados são fictícios (exceto para pessoas públicas).

Em 1997, havia voltado recentemente de duas semanas de férias no paraíso de Cancun, no México (minha primeira viagem internacional, e uma das poucas), e cursava o terceiro período de Gravura, Belas Artes, na UFRJ.

Houve uma espécie de “feira esotérica” no primeiro andar da Reitoria da Ilha do Fundão, onde eu estudava, e fiquei curioso acerca de uma mulher que dizia poder tirar “fotos da aura” com um estranho aparelho, em sua tenda com temas indianos.

Inês me disse que a foto normalmente custava 20 reais, mas que durante a feira estava em promoção: só 10 reais. O processo consistia em enfiar o dedão em uma estranha máquina fotográfica e aguardar alguns segundos para que a foto fosse tirada. Paguei, e no dia seguinte vim pegar minha foto Kirlian, a foto da minha aura!

Segundo pesquisei na época, a técnica surgiu em 1939, na União Soviética, sob a denominação de "efeito Kirlian", em homenagem a Semyon Davidovich Kirlian, “descobridor” da mesma. O método consiste em fotografar um objeto com uma chapa fotográfica, submetida a campos elétricos de alta-voltagem e alta-frequência, porém baixa intensidade de corrente. O resultado é o aparecimento de uma aura, ou melhor, um "halo luminoso" em torno dos objetos, seja ele qual for, independente de ser orgânico ou inorgânico.

Somente muitos anos depois descobri que na verdade havia sido primeiramente descoberta pelo padre brasileiro (e inventor) Landell de Moura, que havia construído a primeira máquina já em 1904, embora houvesse sido obrigado a interromper suas pesquisas sobre o assunto em 1912, “a pedido de seus superiores católicos”... Ao que consta, Semyon Kirlian provavelmente nunca conheceu a pesquisa de Landell de Moura, embora ninguém possa comprovar ao certo. Fato é que Semyon Kirlian ficou conhecido como o “descobridor”, e nunca procurou corrigir tal erro histórico.

A fotografia Kirlian é uma técnica hoje descrita como pseudociência, particularmente depois que se comprovou experimentalmente que o efeito Kirlian é inexistente em fotografias realizadas no vácuo absoluto. Isso significa que os resultados nada têm a ver com um efeito da aura humana. Por outro lado, um físico e ocultista amigo meu postula que a foto Kirlian pode captar interações indiretas entre a aura humana e a atmosfera imediatamente a sua volta... Isso talvez explicasse porque até hoje ela é usada na Rússia como instrumento médico auxiliar de diagnósticos, e até na mineralogia.

Entretanto, o que Inês pôde falar sobre mim a partir da “análise” da minha foto (ela ilustra este conto) me pareceu algo surpreendentemente detalhado. Não me lembro ao certo hoje em dia de tudo que ela me disse, mas lembro bem que ela inicialmente afirmou que a predominância da cor avermelhada na foto, inclusive “invadindo” a circunferência do meu polegar, significava que eu tinha “imensa paranormalidade”. Já as ranhuras na parte esquerda do polegar significariam que eu continha “muitas toxinas na aura, provavelmente causadas pelo consumo excessivo e recente de álcool”.

Ora, aquilo me deixou encucado... Afinal, eu acabara de tomar o primeiro e maior porre da minha vida no México, com certamente mais de uma dúzia de copos de tequila (maiores detalhes, quem sabe, em outra festa estranha). Então aquilo pareceu fazer todo o sentido para mim.

Por outro lado, paranormal, eu? Bem, na época eu já frequentava as palestras espiritualistas semanais do Teatro Vannucci, no Shopping da Gávea (certamente falarei ainda sobre elas em outra festa), e sabia muito bem que embora todos fossem médiuns, somente aqueles que haviam estudado e desenvolvido adequadamente sua mediunidade poderiam, quem sabe, se autodeclarar um médium... Já sobre paranormais, então, não sabia quase nada, exceto talvez de um ou outro filme de Hollywood que em todo caso não deveriam ter sido de grande ajuda.

Nessa época eu certamente não havia exercitado suficientemente o meu ceticismo [1]. Embora fosse adepto da prática das “dúvidas razoáveis” (parafraseando a coluna de Kentaro Mori), eu obviamente ainda era uma “presa fácil” para esse tipo de “esoterismo”... Inês havia me fisgado, eu certamente não era um paranormal, mas gostaria muito de, em todo caso, saber do que se trata a paranormalidade com mais detalhes; E quem sabe um dia efetivamente poder realizar coisas que paranormais faziam. Fossem elas o que fossem, deveriam ser estranhas e, portanto, interessantes para minha curiosidade.

Inês me indicou uma “casa esotérica” na Tijuca (bairro da zona norte) onde poderia encontrar Carla, uma paranormal que iria me “iniciar” nos estudos mais aprofundados “de sabe lá o que” – já que ela não me deu nenhuma pista do que eu iria efetivamente estar estudando lá. Ela também me alertou de que iria encontrar outros estudantes “tão paranormais quanto eu”, e que isso seria bom “porque poderíamos exercitar nossa paranormalidade juntos”.

Na época, eu esperava sinceramente que as estudantes paranormais (normalmente esses assuntos atraíam bem mais mulheres do que homens) fossem mais jovens e bonitas do que Inês. Eu ainda era jovem, e minhas doces decepções no caminho espiritual haviam mal começado...

» A continuação direta deste conto é “Esperando a Nave-Mãe”

***

[1] Estudando posteriormente as interpretações das fotografias Kirlian, soube que o “halo energético” deveria estar completo em torno da marca do polegar, pois se não estivesse, mesmo que em “pequenos intervalos”, isso deveria significar que a pessoa estava “perdendo energia vital”, ou algo do gênero... Se virem minha foto acima, ficaria difícil compreender como sobrevivi até hoje, se estava com um enorme rombo na parte direita do polegar. Por outro lado, talvez isso signifique que estava “totalmente aberto ao universo” – tenho certeza de que Inês teria explicado assim se eu houvesse perguntado.
Já sobre as ranhuras que denotam toxinas, nessa foto em específico me parece óbvio que eram as ranhuras do meu próprio polegar (da minha pele, como todos podem ver em suas carteiras de identidade). Em outras interpretações de fotos que pesquisei, compreendi que as toxinas seriam pequenos pontos amarelados, e não exatamente apenas ranhuras... Portanto ela estava errada acerca das toxinas (embora eu continue admitindo meu porre homérico em Cancun, em todo caso).
Uma outra hipótese que considero é que Inês sequer sabia tirar uma foto Kirlian direito, e o fato da cor avermelhada ter “invadido” meu polegar pode ser resultado de uma foto extremamente mal tirada. Eu não tenho nada contra Inês, até mesmo porque esse episódio me ensinou muitas coisas sobre o que a espiritualidade não era, conforme veremos na continuação desta festa estranha.

***

Crédito da foto: esta é a foto da minha aura!

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4 comentários:

Blogger Unknown disse...

Hahaha, muito legal essa história :-)

Enfim, o que você acha hoje das fotos Kirlian?
Me lembro que vi um post num grande portal de um grande hermetista comentando sobre uma foto tirada do seu polegar, eu acreditei :-)

Por algum motivo esta postagem não apareceu no link:
http://textosparareflexao.blogspot.com/search/label/festa%20estranha
Mas logo no primeiro post desta pesquisa tem o link para este.

3/1/14 13:28  
Blogger raph disse...

Opa,

Bem, eu continuo tendo mais ou menos a mesma opinião hoje. Fotos Kirlian podem ser consistentes e objeto de estudos interessantes, isto não nego, mas a minha foto provavelmente ou foi mal tirada ou mal interpretada.

***

Sobre não aparecer o post naquele link, é que infelizmente no layout antigo do Blogger esses labels tem limitação de número de posts (as vezes 10, as vezes 20), e quando passa do limite os demais não aparecem...

Abs!
raph

3/1/14 19:31  
Anonymous Santos disse...

Caríssimo Rafael, Boa Tarde!

A foto Kirlian não é foto da Aura e sim do campo energético expelido através de gases dos dedos oriundos da liberação de ions dentro dos átomos, ou seja, são ions livres. Já existe diversas Teses de Doutorado relatando os técnicas de observação com tiragem de setenas de milhares de fotos.

No meu pequeno conhecimento explicito o seguinte:

- Intoxicação Alta: Acredito que por alimento ou substancias alcoólicas;

- Forte perda de energia podendo gerar cansaço: Os tufos (bolas de luz que se desprende);

- Se foi o Dedo polegar direito envolve vias aéres e ouvido. No topo da foto consta processo infeccioso - que no polegar envolve "Sinus" podendo ser sinusite, ouvido ou olhos - Lado direito envolve área respiratória.

- A falha energética (abertura) deste porte (lado direito) também está relacionado a Depressão fraca;

- Conflitos emocionais caracterizados pelas pequenas brechas da foto;

- As papilas digitais apresentadas pode demonstrar pessoa com graus de espiritualidade, quanto maior seu número e maior a sua visibilidade melhor.

- Não considero paranormalidade (se for muito pequeno) e sim processo obsessivo devido a algum sentimento de Culpa devido a ato ou segredo (Forma Amendoim do lado superior direito) que você tinha na época.

Cada dedo tem uma análise perante os órgãos físicos.

4/1/15 18:16  
Blogger raph disse...

Obrigado Santos, a sua análise sem dúvida faz bem mais sentido (ao menos ela acertou na questão das toxinas)...

Abs!
Raph

4/1/15 22:34  

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