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26.11.12

Uma visita a Zygmunt Bauman

Em Julho de 2011, uma equipe do Café Filosófico (TV Cultura) foi recebida pelo professor Zygmunt Bauman, em sua casa, na cidade de Leeds, Inglaterra. Previsto para durar aproximadamente sessenta minutos, o encontro se alongou por cerca de três horas. Bauman revelou-se uma pessoa de extrema simpatia e cordialidade com a equipe que virtualmente “invadiu” sua casa naquela tarde de verão inglês com câmeras de cinema, gravadores de som e equipamentos profissionais de iluminação.

Bauman os recebeu em um ambiente familiar despojado, marcado por imagens de sua esposa Janina Bauman, de seus filhos e netos e de muitos livros em variados idiomas. Foi uma longa conversa que tratou de expectativas para o século XXI, internet, a necessidade de construção de políticas globais, a construção de uma nova definição de democracia, e finalmente, a necessidade da constante elaboração e reelaboração de nossas identidades sociais em uma era de modernidade líquida...

Trecho em destaque: Os 500 amigos do Facebook
Um viciado do Facebook gabou-se para mim de que havia feito 500 amigos em um dia. Minha resposta foi que eu vivi por 86 anos, mas não tenho 500 amigos. Eu não consegui isso. Então, provavelmente, quando ele diz "amigo", e eu digo "amigo", não queremos dizer a mesma coisa. São coisas diferentes.

Quando eu era jovem, um nunca tive o conceito de "redes". Eu tinha o conceito de laços humanos, de comunidades, esse tipo de coisa, mas não redes. Qual é a diferença entre comunidade e rede? A comunidade precede você. Você nasce numa comunidade. Por outro lado, temos a rede. O que é uma rede? Ao contrário da comunidade, a rede é feita e mantida viva por duas atividades diferentes. Uma é conectar e a outra é desconectar.

E eu acho que a atratividade do novo tipo de amizade, o tipo de amizade do Facebook, como eu a chamo, está exatamente aí. Que é tão fácil de desconectar. É fácil conectar, fazer amigos. Mas o maior atrativo é a facilidade de se desconectar. Imagine que o que você tem não são amigos online, conexões online, compartilhamento online, mas conexões off-line, conexões de verdade, face a face, corpo a corpo, olho no olho.

Então, romper relações é sempre um evento muito traumático. Você tem que encontrar desculpas, você tem que explicar, você tem que mentir com frequência e, mesmo assim, você não se sente seguro porque seu parceiro diz que você não tem direitos, que você é um porco, etc. É difícil, mas na internet é tão fácil, você só pressiona delete e pronto.

Em vez de 500 amigos, você terá 499, mas isso será apenas temporário, porque amanhã você terá outros 500... E isso mina os laços humanos.

Os laços humanos são uma mistura de benção e maldição. Benção, porque é realmente muito prazeroso, muito satisfatório, ter outro parceiro em quem confiar e fazer algo por ele ou ela. É um tipo de experiência indisponível para a amizade no Facebook; então, é uma benção. E eu acho que muitos jovens não tem nem mesmo consciência do que eles realmente perderam, porque eles nunca vivenciaram esse tipo de situação.

Por outro lado, há a maldição, pois quando você entra no laço, você espera ficar lá para sempre. Você jura, você faz um juramento: até que a morte nos separe, para sempre. O que isso significa? Significa que você empenha o seu futuro. Talvez amanhã, ou no mês que vem, haja novas oportunidades. Agora, você não consegue prevê-las. E você não será capaz de pegar essas oportunidades, porque você ficará preso aos seus antigos compromissos, às suas antigas obrigações.

Então, é uma situação muito ambivalente. E, consequentemente, um fenômeno curioso dessa pessoa solitária numa multidão de solitários. Estamos todos numa solidão e numa multidão ao mesmo tempo.


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1 comentários:

Blogger Aline Estelita disse...

Corroborando com a colocação de Bauman, as verdadeiras relações são as táteis, que podemos mensurar o sentir, o vê, o agir.

29/8/23 09:36  

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