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19.12.16

O mistério das vozes celestes

Veneza, julho de 2014, em pleno concerto de André Rieu, violinista e regente holandês, ela é chamada ao palco.

Quando Amira Willighagen se encaminha para o centro das atenções de um público exigente e acostumado com as grandes cantoras de ópera, as expressões são de grande surpresa. Do alto de seus 10 anos de idade, a criança conterrânea de Rieu inspira mais sentimentos de fofura do que propriamente de espanto. O espanto ficou para depois.

Muito provavelmente, a grande maioria do público não acompanhou o programa de talentos holandês que, cerca de um ano antes, havia lançado a voz celeste de Amira ao mundo da música. Ela vinha cantar a mesma música com que chocou o grande público pela primeira vez, O Mio Babbino Caro (Ó Meu Pai Querido), um grande clássico de Giacomo Puccini. Quando ela inicia seu canto, as expressões de espanto vão surgindo, vencendo até mesmo os mais sérios e compenetrados.

A diferença é que ali Amira não estava mais num programa de TV, mas num dos locais mais sagrados da música erudita no mundo, cercada pela arte antiga por toda parte: na arquitetura, na escultura, no próprio ar que gentilmente conduzia sua voz cristalina aos ouvidos mais distantes...

Então, as lágrimas começam a irromper aqui e ali. Como explicar em palavras o mistério das vozes celestes? Para que querer analisar cientificamente, ou teologicamente, a arte da alma?

Amira é um milagre biológico, um milagre vivo. Há quem creia que Deus aponta para algumas almas recém-nascidas e diz, "Esta terá uma voz divina". Há quem creia que tudo se limita a dança neuronal que, aleatoriamente, faz com que crianças pequeninas se interessem por ouvir Maria Callas no YouTube, desde muito cedo, ainda que os próprios pais nunca tenham sido grandes entusiastas de música clássica, tampouco cantores de ópera. Há também quem creia que tal potencialidade não é, não pode ser fruto de uma única vida.

Eu ainda creio que as lágrimas da platéia falam mais alto do que qualquer explicação. De alguma forma, ainda que sem saber colocar em palavras, elas sabem deste mistério:

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Crédito da foto: Google Image Search/Divulgação (Amira Willighagen)

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